No ano em que o Rio Grande do Sul colheu uma safra recorde, ultrapassando 32 milhões de toneladas de grãos, acompanhamos um movimento de eclosão de crises em empresas do setor jamais vista. Se considerarmos apenas as cooperativas em processo de liquidação extrajudicial no Estado, temos aproximadamente R$ 2 bilhões em passivos. Cerealistas e agroindústrias em processo de recuperação judicial somam outros R$ 2 bilhões, sendo que apenas duas tradicionais empresas registraram no último semestre R$ 700 milhões de prejuízo.

Não é de hoje que cooperativas e cerealistas surpreendem produtores e financiadores em razão de crises financeiras, levando consigo a economia de muitas safras ou até mesmo de uma vida. Entretanto, os problemas do passado ocorreram de modo pontual e isolado, em largo intervalo de tempo, dando margem para a recuperação entre uma quebra e outra.

Já a crise atualmente vivenciada por empresas do agronegócio gaúcho não registra precedentes, em uma sucessão de pedidos de recuperação judicial de empresas e deliberação por liquidações de cooperativas, colocando em alerta não apenas financiadores e fornecedores do setor, mas principalmente produtores e entidades de classe.

Os reflexos, danosos sob os mais diversos aspectos, devem servir de lição para levar a um melhor gerenciamento do risco, tanto para quem produz e necessita armazenar e comercializar quanto para quem financia e fornece insumos. Os movimentos, para o ano que se inicia, deverão ser calculados com maior precisão e cautela, seja em razão da atual conjuntura econômica, já que os custos de produção se elevaram, seja porque o fenômeno El Niño deu sinais de que o fator climático não será tão favorável ao campo como vinha sendo.

Mas o agronegócio sabe se renovar e esta, talvez, seja a sua maior virtude. A cada período de safra, um novo ciclo de negócios brota do campo, com pujança e fartura. E os números mostram isso. Nenhum outro setor da economia possui tamanha capacidade de regeneração em tão curto espaço de tempo.

Façamos votos que 2016 seja um ano de renovação para todos os protagonistas da cadeia produtiva. E que se renovem não apenas as safras, mas principalmente os modos de gestão e de tomada de decisões. Que os riscos sejam mais calculados para que o novo ano nos traga mais segurança nos negócios e menos surpresas. Reinventar-se também deve fazer parte do agronegócio. Que o clima colabore e o mercado não atrapalhe, pois o homem do campo quer seguir produzindo.

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