Transações menores estão se tornando mais comuns na atual era de financiamento de projetos, impactadas pelo foco nas práticas de ESG. Ainda que haja uma menor quantidade de projetos maiores e de maior prestígio sendo realizados, o número crescente de negócios decorrentes das mudanças geopolíticas representa oportunidades em todos os setores.

O financiamento de projetos está enfrentando grandes reviravoltas em alguns dos macro temas mais importantes que têm impulsionado o setor há décadas. Um exemplo disto é que, em muitos tipos de financiamento de projetos – como o de produção de energia – no lugar de desenvolver projetos mais importantes e cada vez maiores, a priorização de negócios liderados pelas práticas de ESG resultou em um número maior de negócios, porém de menor impacto.

De muitas maneiras, esta distribuição de investimento ajuda patrocinadores e investidores a diversificar o risco de seus portfólios, mas acrescenta complexidade e custo ao exigir mais trabalho para distribuir a mesma quantidade de capital para trabalhar em mais projetos. Além disso, adiciona desafios sob uma perspectiva administrativa e regulatória, com a necessidade de recorrer a parceiros como agentes de garantias para fornecerem suporte às empresas que trabalham com um grande portfólio de negócios que abrange diferentes parceiros em diferentes negócios.

Esta expansão ajuda a explicar a diversificação geográfica dos players da indústria. Velhas regras, com certas jurisdições dominadas por investidores de um determinado país e/ou tipo, estão sendo extintas. A crescente ambição da China em interferir no mercado global adiciona complexidade e textura a estas tendências, com a iniciativa Belt and Road resultando em capital chinês competindo em áreas que os investidores ocidentais tradicionalmente dominavam. Alguns investidores tentaram fazer parte deste movimento quando a China entrou em novos mercados, com o objetivo de formar novos consórcios e parcerias, mas o progresso foi lento. De maneira geral, as empresas chinesas ainda preferem estratégias unilaterais de construção e financiamento de projetos.

Esta falta de envolvimento sino-europeu levou a uma crescente participação do mercado chinês no mercado europeu e, devido ao seu perfil de marca autoconfiante, eles estão desempenhando um papel decisivo. Bancos e empresas de construção chinesas, juntamente com investidores, desenvolvedores, fabricantes e até serviços públicos chineses, já estão presentes nos mercados europeus há muito tempo. Esta expansão chinesa ameaça ultrapassar os bancos e investidores da Europa Ocidental – e até mesmo, levá-los a serem retirados de certos setores. Em resposta, estes investidores e patrocinadores europeus e internacionais passaram por uma intensa exploração de novos países. Como exemplo desta manobra, observa-se que as empresas espanholas têm visivelmente aumentado sua presença na África e têm utilizado sua expertise em sustentabilidade para desenvolver suas relações com governos e reguladores do continente.

No entanto, embora existam algumas discrepâncias na Europa em busca de novos financiamentos para projetos, há muitos players que demoraram para se manifestar. O setor público europeu – um catalisador crucial para a expansão internacional do financiamento de projetos – geralmente tem sido lento para coordenar uma estratégia coerente para o envolvimento internacional com novos mercados. Os governos, talvez preocupados com inúmeros outros desafios, deixaram de lado a visão de longo prazo que sustenta o financiamento de projetos.

"Algumas empresas e bancos europeus têm procurado contornar completamente os desafios governamentais tradicionais, estabelecendo consórcios internacionais que, fundamentalmente, visam atrair bancos de desenvolvimento multilaterais para atuarem junto ao capital privado para reduzir o custo e o risco totais"

Alan Ross, Commercial Director na TMF Group

O setor privado se encarregou de tomar a iniciativa. Os bancos alemães e franceses estão progredindo, mas sem o impacto catalisador dos governos, de modo que a eficácia de suas intenções foi reduzida. Enquanto isso, os bancos japoneses continuam firmando parcerias com entidades europeias – fornecendo uma valiosa liquidez aos sindicatos – mas permanecem hesitantes em liderar.

"Talvez a região que perceberá as múltiplas forças que impulsionam a expansão a atuar de maneira mais direta seja a América Latina. No entanto, esta previsão deve ser acompanhada de uma importante ressalva: enquanto a região parece destinada a uma enorme onda de projetos menores apoiados por patrocinadores e financiadores de todo o mundo, criando oportunidades para novos consórcios do setor privado que atraem organizações nacionais e internacionais, ainda há uma grande incerteza".

Karla Fernandes, Managing Director na TMF Brasil

No Brasil, a volta do presidente Lula traz muito otimismo com relação a novas oportunidades, mas ele é atenuado em função da cautela com relação à estabilidade macroeconômica de quem investe no país a médio e longo prazo. Há uma lista enorme de projetos a serem realizados e o desejo da América do Norte, Europa e Ásia (incluindo a China) parece ser intenso, mas ainda há questões importantes a serem respondidas antes do início do andamento das negociações e dos fluxos de capital. Possivelmente, a maior questão deve ser: Qual será o papel do banco de desenvolvimento do país, o BNDES, no desenvolvimento de projetos de infraestrutura? O novo presidente do banco estatal manifestou o desejo de elevar o nível de gastos para 2% do PIB. Os financiadores do setor privado temem que esta medida "afaste" tanto os empréstimos bancários quanto os financiamentos do mercado de capitais local, à medida que o BNDES retorna a um papel dominante e subsidiado no setor. Outros acham que as realidades políticas e fiscais apresentarão um retorno total ao financiamento público de projetos no Brasil e uma abordagem combinada não será apenas a mais prática, mas também o modelo ideal.

Outra questão importante gira em torno do banco BRICS (agora conhecido como NDB). Se ela entrar em evidência, como o NDB se envolverá com o setor privado nestes países e qual será seu apetite por capital e risco?

No entanto, ainda que o Brasil seja o maior mercado da América Latina, não será o único mercado atrativo na região. O México está recebendo grandes fluxos de investimentos estrangeiros diretos (IEDs) da Ásia e dos EUA, à medida que a tendência de nearshoring ganha força, e este movimento fomentará uma demanda por novos projetos mexicanos em vários setores. Petróleo, gás e energias renováveis representam uma grande oportunidade, dependendo dos resultados das eleições presidenciais de julho do ano que vem. O Chile, a Colômbia e o Peru também possuem capacidade e necessidades de curto prazo, e a Argentina é o principal desejo do setor de financiamento de projetos.

Esta é potencialmente uma era muito empolgante para o ramo de financiamento de projetos, mas desafiadora para os participantes que planejam agir de maneira escalar. Em vez disso, o desafio será aproveitar os benefícios da diversificação de riscos à medida que muitos segmentos se expandem e, ao mesmo tempo, ser capaz de implementar e administrar o capital com eficiência. Na TMF Group, acreditamos que novas parcerias dentro do mercado, novas formas de compartilhamento de conhecimento e novas estratégias de trabalho multilaterais serão vitais para lidar satisfatoriamente com este importante desafio.

Financiamento de projetos

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Originally published 26 April 2023

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