Boas práticas de gestão são essenciais para a manutenção do sucesso das empresas familiares – tipo de organização que é maioria nos negócios formais do País

De acordo com uma recente pesquisa realizada pelo Sebrae, cerca de 95% das organizações formalmente constituídas no Brasil são empresas familiares. E para a surpresa de alguns, elas apresentam, em média, um faturamento 3% maior em relação ao de negócios não familiares.

Mais do que apenas obter um lucro superior, empresas familiares se beneficiam justamente por ter um maior comprometimento do clã fundador para com a perpetuidade dos negócios. Talvez por isso mesmo se exija uma postura distinta no comando e transparência absoluta na apresentação dos resultados aos sócios, sob pena de criar desgastes e hostilidades entre eles. Diante desse e de outros cenários hipotéticos de desavenças, a adoção de boas práticas de governança corporativa é altamente recomendável para manter o engajamento da sociedade, o que não deve ser confundido com conselho de família.

Embora para alguns o termo "governança corporativa" remeta, erroneamente, a uma ideia de burocracia e engessamento, o que se vê na realidade é exatamente o oposto – com a adoção de boas práticas de governança, introduzidas de uma forma correta, se obtém uma vida empresarial mais inteligível, com resultados que podem ser vistos na gestão e na lucratividade da empresa.

Esse conceito é compartilhado por Roberta Nioac Prado, conselheira de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). "A adoção de boas práticas de governança corporativa auxilia na preservação da empresa no longo prazo – na longevidade do negócio e da sociedade, uma vez que tende a aperfeiçoar a gestão, potencializando a capacidade de sua formulação estratégica, permitindo a melhor exploração de oportunidades de mercado, ampliando sua capacidade de gerir riscos e facilitando o acesso a recursos financeiros e não financeiros."

Serviços específi cos direcionados às organizações familiares são um dos focos da EY, que adota uma abordagem baseada no modelo de "DNA de crescimento de empresas familiares". São serviços personalizados que fornecem suporte às questões de governança, fi nanceiras e de sustentabilidade dos líderes dessas companhias, que vão desde assessoria de como sustentar o crescimento (ey.com.br/comocrescer) e aplicar boas práticas de governança corporativa até realizar a gestão e retenção de talentos. Além disso, a EY dispõe de um programa especial voltado para a sucessão familiar – o EY Junior Academy (www.ey-junioracademy.com), que compreende uma série de eventos exclusivos para fi ns de treinamento e de auxílio à próxima geração de empreendedores (ey.com.br/family).

Conflito de interesses

A partir do momento em que uma empresa familiar opta pela adoção de um sistema de governança corporativa, alguns cuidados devem ser tomados para que o resultado seja amplamente satisfatório. A melhor forma de garantir isso é adotando algumas diretrizes, como exemplifi ca o sóciolíder de Mercados Estratégicos da EY, André Viola Ferreira. "A governança corporativa pode variar de empresa para empresa e de acionistas para acionistas; todavia, ela deve ser calcada em princípios muito claros, tais como transparência, equidade, accountability e, claro, responsabilidade corporativa." Seguindo esses conceitos, sem dúvida a transição será feita de uma forma muita mais efetiva.

Um dos momentos em que esse modelo de gestão se faz mais necessário é quando a empresa familiar inicia uma discussão a respeito da nomeação de um sucessor. Essa questão costuma ser bastante complexa, pois envolve diversos aspectos, inclusive emocionais. Cada família tem uma lógica distinta de escolha na sucessão que não necessariamente está ligada a meritocracia, podendo oscilar em razão de diversos fatores, sejam eles culturais, religiosos e até mesmo regionais. "Muitas vezes é recomendável separar o conselho da família e o conselho da empresa, visando, assim, separar as discussões e melhorar a gestão", diz Ferreira. Desse modo tem-se a certeza de que a decisão a ser tomada é a melhor para a saúde da organização.

O conselho da empresa tem como objetivo reunir pessoas de confi ança do empresário fundador para aconselhá-lo quando for preciso, compartilhar experiências e trazer visões diferentes. Já o conselho de família é responsável por tratar todos os assuntos que afetam o futuro da família nos negócios. Ele reúne os representantes dos familiares de todas as gerações e tem como papel proteger o patrimônio e acompanhar o caminho que a família escolheu para a manutenção dos negócios. Mas é importante ressaltar que, em dado momento, os interesses do conselho de família, do conselho da empresa e dos acionistas irão se encontrar, podendo gerar confl itos. O confl ito de interesses pode ir desde a defi nição da separação entre os ativos da empresa e os ativos dos acionistas e as regras para as transações entre partes relacionadas até a escolha de diretrizes para a contratação de familiares e as normas de remuneração.

A discussão sobre a responsabilidade dos conselheiros ganha cada vez mais visibilidade, em prol de uma melhora contínua na governança das companhias. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) editou a Instrução nº 509, em novembro de 2011, alterando o rodízio de fi rmas de auditoria externa. A medida estabelece que as companhias que instalarem e mantiverem Comitê de Auditoria Estatutário (CAE), de acordo com as condições exigidas pela norma, poderão contratar auditor independente por até dez anos seguidos. Portanto, foi duplicado o prazo de rodízio de auditores independentes. A meta da CVM é fazer com que as empresas forneçam informações contábeis com elevado nível de confi abilidade e qualidade. A criação de um CAE representa um grande passo, pois fortalece o ambiente de governança corporativa no mercado de capitais.

A adoção, portanto, de um modelo de governança corporativa em empresas familiares - ainda que tenha seus riscos, como por exemplo uma aplicação distorcida das práticas de governança – garante incontáveis benefícios ao negócio. Isso é fundamental no cenário do mercado atual, que se mostra altamente competitivo e cada vez mais internacionalizado, apesar das restrições existentes na economia. E também é essencial para toda empresa que deseja manter seus níveis de crescimento saudáveis e dispor de uma gestão profissional de sucesso.

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