O investimento de private equity sempre foi baseado em cultivar relacionamentos de confiança entre gestores e investidores. A construção destes foi central para seu sucesso, mas o impacto da COVID-19 e o movimento para um modo de trabalho remoto pode ter colocado uma limitação na dinâmica de GP/LP neste ano.

Por isso, manter fortes vínculos se tornou mais importante que nunca; não só para encontrar valor em termos financeiros, mas também em termos de comunicação, transparência e disposição entre GPs para evoluir de acordo com o momento em relação à estruturação de comissões.

Ao longo dos últimos dois anos, o pêndulo alternou entre mercados favoráveis para LPs e para GPs. E, apesar de montantes recordes e ciclos aparentemente mais rápidos de levantamento de fundos, a pandemia de coronavírus trouxe o pêndulo a um equilíbrio, com ambas as partes fazendo um balanço da agitação.

Transparência na avaliação de ativos

“Um ex-colega meu que agora é um COO em um fundo de private equity disse que a COVID-19 realmente impactou alguns dos investimentos focados no varejo em seu portfólio”, afirma James Morris, Diretor Comercial Sênior da TMF Group Londres. “Uma das maiores pressões que os gestores enfrentam é a comparação da performance com anos e safras de fundos passados. Este ex-colega adicionou, ‘Você precisa seguir com sua estratégia e se manter comprometido para garantir que seus LPs se mantenham leais'.

“Manter investidores do seu lado é a chave para GPs neste ambiente, especialmente se eles estiverem buscando levantar bilhões para novos fundos”.

Nos olhos de investidores, GPs não querem perder sua reputação tendo maus investimentos em seus registros. Alguns gestores que estavam buscando lançar parte de sua liquidez em investimentos oportunistas estão agora utilizando-a para apoiar a saúde financeira de empresas do portfólio.

Mesmo que alguns ativos subjacentes dos portfólios tenham sido muito impactados pela COVID-19, desde que haja uma boa comunicação e relatórios em termos de possíveis passivos, é possível dar a investidores a confiança que eles precisam para continuar a apoiar este GP.

GPs veem valor em manter LPs em dia com desenvolvimentos para fortalecer seus relacionamentos e a tecnologia em sendo fundamental para isto, à medida em que investidores solicitam diferentes níveis de transparência e relatórios personalizados para analisar indicadores chave da performance.

“O que a tecnologia envolve? ”, pergunta Morris. “Essa é a resposta que os LPs enxergam em última instância, e este é um objetivo em constante evolução entre GPs. É caro para se fazer, leva tempo para gerar relatórios no formato correto e assim por diante. De uma perspectiva do LP, se você está investindo muito dinheiro com um GP, você quer ter uma clareza real sobre como o investimento está desempenhando; passivos a curto e longo prazo, possíveis ganhos, como o fundo está de uma perspectiva de riscos, etc.

“Como indústria, eu acredito que toda a abordagem de relatórios sobre ativos reais vem sendo lenta, mas algumas plataformas agora estão ganhando tração. Na verdade, implementamos uma plataforma, que vai propagar todos os dados da TMF Group em um lugar para GPs acessarem. O acesso em tempo real a toda a informação em todas as estruturas de investimentos empoderam os GPs a entregar esta clareza e transparência para seus clientes. “

Relatórios de avaliação precisos são uma parte fundamental da proposição de valor hoje, dada a deslocação em preços em setores da indústria vulneráveis como varejo, energia, aviação e imóveis comerciais. O foco a curto-prazo deve ser em ajustes a múltiplas taxas e descontos ao invés de projeções a longo prazo, a fim de que LPs tenham certeza de qual é o valor real do ativo, caso precisem acessar mercados secundários para liberar liquidez.

No futuro, Morris acredita que há uma grande oportunidade para mais terceiros que oferecem expertise em avaliações. “Eu acredito que o mercado evoluirá se os fundos de PE quiserem se tornar mais abertos e transparentes; a fim de conseguir isto, investidores continuarão querendo mais informações e isto se apoiará em ativos sendo corretamente avaliados. LPs querem muito mais transparência em avaliações, especialmente neste ambiente. ”

Relatórios personalizados variarão dependendo da sofisticação do LP subjacente e o que eles querem ver, mas Morris garante: “Eu observei uma grande mudança em relação a isto ao longo dos últimos anos. Se gestores estiverem buscando algo mais personalizado e flexível, e quiserem velocidade de entrada em mercados, administradores menores e independentes estarão melhor posicionados que administradores ligados a grandes bancos. “

Cartas laterais e fees menores

Parte da motivação por trás de relatórios mais personalizados se deve a LPs buscando utilizar acordos de cartas laterais para encontrar valores adicionais em seus relacionamentos com GPs. Estes acordos podem ser utilizados para renegociar juros, fees de gestão, e outras considerações, mas tudo vem com seu próprio conjunto de relatórios, os quais os GPs não podem padronizar.

Morris espera ver mais LPs insistindo em ter cartas laterais e acordos separados. Ele ilustra este ponto referenciando um gestor de infraestrutura que recentemente lançou um grande fundo. Ainda que os comprometimentos de LPs tenham sido significativos, quase 45% foram em acordos separados.

“Os maiores LPs têm este poder de compra. Se você for um dos GPs maiores e mais estabelecidos no mercado, você precisa se movimentar de acordo com o momento. Termos melhores podem ser absorvidos em uma carta lateral, que é muito mais lucrativa para eles do que simplesmente reduzir comissões para a primeira leva de investidores que ingressarem no fundo.

“No entanto, GPs menores que querem levar seus fundos ao mercado terão que aceitar comissões de gestão menores para atrair investidores para o veículo, ao invés de utilizar acordos de cartas laterais específicos, já que estes são demorados e custosos, ” comenta Morris.

Ele adiciona que GPs de mercados médios podem demorar mais para adotar o uso de cartas laterais, “mas eles chegarão lá. “

“Eu não acho que GPs, de maneira geral, podem manter de maneira realista suas estruturas atuais de gestão; elas são muito altas. No ambiente atual, se alguns investimentos no portfólio se tornarem insolventes, o histórico do GP será impactado, investidores quererão preços melhores para o que será possivelmente um investimento de maior risco. “

Para que a indústria de PE continue a ser bem-sucedida, ela precisará buscar maneiras de evoluir e amadurecer: maturidade relacionada a relatórios, transparência e metodologia de avaliações.

“Todos têm que dar um passo à frente e se mover de acordo com o momento para manter um bom relacionamento entre GPs e LPs, além de garantir que os fundos de PE continuem sendo uma classe de ativos viável para se investir, “ diz Morris.

Foco de investimentos de LPs

À medida em que LPs avaliam futuras oportunidades de investimento em mercados privados, poucas áreas podem parecer atrativas. Uma é o mercado secundário. Este mercado continuou de ir de ponto forte a ponto forte, com volumes de acordos e números obtendo um bom impulso em 2019. O cenário para 2020 obviamente foi alterado por causa da pandemia, e ainda que existam muitos acordos liderados por GPs atualmente, a realidade é que muitos não serão completados. O mesmo se aplica para secundários liderados por LPs; por que vender hoje se não for necessário?

Dito isto, alguns LP buscarão capitalizar nos mercados menores e médios onde os vendedores estão mais dispostos a aceitar descontos se tiverem um passivo pouco consolidado (ex. 20%) em comparação com passivos completamente consolidados. E se o relatório de avaliação for preciso, isto também pode apoiar uma maior atividade em acordos enquanto LPs desinvestem partes de seus portfólios de PE.

“No início de 2020, especialmente nos EUA, estávamos vendo muito mais estruturas secundárias de PE chegando ao mercado; principalmente estruturas de Cayman/Delaware. Com a COVID-19, no entanto, acredito que tanto GPs quando LPs estão fechando as portas um pouco, consolidando suas posições, certamente enquanto mercados de public equity continuam a ter um bom desempenho”, declara Morris.

Ele conclui que LPs baseados no Reino Unido estão focando seus esforços em tirar vantagem de oportunidades de investimento dentro de portfólios de crédito com problemas, infraestruturas centrais e de adição de valor, bem como estratégias especializadas de private equity:

“A infraestrutura continuará forte e, no mercado imobiliário, poderemos ver alguns fundos de resgate apoiados pelo governo do Reino Unido. Muito depende do que acontecerá a seguir com a COVID-19 e se vai acabar havendo uma segunda onda. Vejo mais ativos problemáticos chegando à medida que avançamos no quarto trimestre. ”

Originally published by Private Equity Wire.

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