Foram pouco mais de duzentas cartas enviadas ao Congresso. Agendas de oito, até dez horas seguidas de reuniões. Foi assim que lobistas da indústria brasileira de aço em Washington passaram os últimos seis meses. 

E é assim que devem passar as próximas duas semanas, na tentativa de reverter o anúncio da tarifa de 25% sobre o aço importado pelos Estados Unidos, anunciadas nesta semana pelo presidente Donald Trump. 

"Nós ainda queremos estar fora disso", disse o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes. 

Trump decidiu dificultar a entrada do produto importado nos EUA sob o argumento da segurança nacional, a fim de proteger a indústria siderúrgica do país. O Brasil é o segundo maior exportador de aço aos EUA. 

Nas próximas duas semanas, porém, as negociações para exceções às sobretaxas ainda estão abertas. O republicano diz que quer ver quem são os "amigos de verdade" do país. 

O lobby brasileiro, formado pela iniciativa privada, diplomatas e autoridades do governo federal, tenta argumentar que é um deles ""com "sólidos vínculos econômicos e políticos" com os EUA, como dizem as cartinhas enviadas a parlamentares e empresários americanos. 

O principal argumento é que o produto brasileiro, que é semiacabado, não compete com o aço dos EUA. 

"A indústria de aço do Brasil não é uma ameaça", afirma a carta assinada pela BIC (Brazil Industries Coalition), principal grupo de defesa das indústrias brasileiras em Washington. O material é acompanhado de gráficos sobre a balança comercial entre os dois países (positiva para os americanos) e o número de empregos gerados pelas siderúrgicas brasileiras nos EUA (pouco mais de 70 mil). 

CARVÃO

Mas um dos tópicos mais presentes na mesa de negociações tem sido o carvão americano ""do qual o Brasil é o principal comprador, justamente para alimentar as usinas de aço. 

O argumento é que, caso as exportações de aço sejam prejudicadas, as importações de carvão irão despencar, prejudicando um setor igualmente caro ao presidente Trump. O republicano prometeu, em campanha revitalizar a indústria carvoeira do país. 

"É um argumento muito interessante, porque pode unir interesses", avalia a advogada brasileira Ana Caetano, especialista em comércio internacional do escritório Veirano Advogados

Os brasileiros foram atrás das associações de carvão dos EUA. Viram solidariedade e sinais de preocupação, mas ninguém quis se indispor com Trump, que tanto tem prometido ao setor. 

Nos últimos seis meses, o lobby brasileiro visitou o Departamento de Comércio, a Casa Branca, associações industriais, congressistas simpáticos ao comércio internacional e até servidores federais especializados no Brasil. 

O périplo deve prosseguir pelos próximos dias para especialistas, é o momento para isso. "É uma coisa que eu digo para meus clientes: o juiz quer ver você chorar", brinca Caetano. "Tem que falar com todo mundo, até com o papa."

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