Em recuperação judicial, a Ecovix, dona do Estaleiro Rio Grande (RS), obteve a autorização necessária para dar o primeiro passo para diversificar a atividade e ajudar o empreendimento a sobreviver.

Com a aguda crise da indústria naval após a deflagração da Operação Lava-Jato, o estaleiro está sem encomendas e inoperante.

Na primeira sessão legislativa do ano, dia 2, a assembleia gaúcha aprovou projeto que autoriza a movimentação portuária de cargas no Polo Naval de Rio Grande. Com isso, a Ecovix se prepara para usar parte da infraestrutura do estaleiro para exportar granéis sólidos de origem vegetal, notadamente cavaco de madeira. Carga que hoje o porto do Rio Grande deixa de aproveitar em toda sua potencialidade porque a infraestrutura portuária está voltada ao escoamento de outras cadeias.

Se isso não resolve a situação da Ecovix, que pediu recuperação judicial em 2016 com mais de R$ 8 bilhões em dívidas listadas e é envolvida na Lava-Jato, ao menos deve a ajudar a empresa a gerar alguma receita enquanto não há novas encomendas de embarcação.

O estaleiro está dentro do porto do Rio Grande, mas em área não operacional cedida pelo Estado do Rio Grande do Sul, que tem a delegação para administrar o porto. Por isso, a Ecovix finaliza proposta de utilização da gleba para embarque e desembarque de carga a ser apresentada à agência reguladora federal de portos (Antaq).

Caberá à agência definir, por exemplo, qual será o modelo de exploração – se um arrendamento de área pública ou um terminal de uso privado (TPU), regimes com obrigações e pagamento de tarifas diferentes. "Estamos neste momento estudando para apresentar a proposta à Antaq. Imaginamos que ainda no fim do primeiro trimestre a gente tenha alinhavado isso junto à Antaq", diz ao Valor o diretor de operações da Ecovix, Ricardo Ávila.

A Ecovix é uma subsidiária do grupo Engevix criada em 2010 para construir para Petrobras cascos de plataformas do tipo FPSO. Para isso, foi adquirido o estaleiro em parceria com o fundo de pensão da Caixa Econômica (Funcef), que ficou com 25% de participação no ativo. A crise da Petrobras e da Sete Brasil, a queda do preço do barril de petróleo e a Lava-Jato levaram a Ecovix a pedir recuperação judicial no fim de 2016.

Uma vez obtida a liberação da Antaq, a Ecovix buscará parceiros dispostos a investir para transformar o empreendimento em terminal de cargas. A ideia é que os parceiros sejam embarcadores de cargas ou operadores portuários.

Preliminarmente, a operação demandará equipamento para carregamento de navios e esteiras transportadoras para granel sólido, um investimento entre "entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões", estima Ávila. Isso porque o estaleiro já conta com estruturas que seriam mais caras para construir, como cais extenso e profundidade para receber navios graneleiros.

Segundo Ávila, o empreendimento pode receber navios graneleiros de 360 metros de comprimentos e tem profundidade superior ao do porto do Rio Grande. A administradora do porto, contudo, informou que o calado operacional do porto e do estaleiro é o mesmo – até 12,8 metros.

Se tudo der certo, a estimativa é que a operação portuária comece ainda em 2019 e, no primeiro ano completo, o terminal movimente 1 milhão de toneladas. No médio prazo, entre cinco a oito anos, a meta é alcançar até 4 milhões de toneladas, o equivalente a quase 10% do que o porto todo do Rio Grande movimentou em 2017 – os dados completos de 2018 ainda não foram fechados.

Pelo plano de recuperação judicial, a Ecovix constituirá uma unidade produtiva isolada (UPI) que ficará com a estrutura do estaleiro e será vendida em leilão judicial previsto para ocorrer até agosto de 2020 (quando se completam dois anos da homologação do plano de recuperação judicial pela Justiça). De acordo com o executivo, o terminal portuário de cargas permitirá agregar valor à venda.

Fonte: VALOR ECONÔMICO (SP)

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